UE fecha acordo de parceria com a Ásia Central na cimeira de Samarcanda
No meio
das tensões globais que se seguiram aos anúncios de Trump sobre os direitos
aduaneiros, a UE assinalou 30 anos de relações diplomáticas, declarando uma
nova parceria estratégica com a Ásia Central.
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Presidente Shavkat, Miziyoyev com o presidentee do Conselho Europeu, Antonio Costa, e a lider da Comissão Europeia, Ursula Vvon der Leyen, em Samarcanda. |
Costa abordou igualmente os desafios comuns em matéria de
segurança, chamando a atenção para as múltiplas ameaças, nomeadamente o
terrorismo, o extremismo violento e o tráfico de droga, que correm o risco de
alastrar à Ásia Central e à Europa.
Ursula von der Leyen sublinhou os potenciais benefícios
de laços mais fortes: "A vossa localização estratégica pode abrir rotas
comerciais e fluxos de investimento a nível mundial. Estes novos investimentos
reforçarão a soberania. Reforçarão as vossas economias. E, mais importante
ainda, criarão novas amizades", afirmou.
A presidente da Comissão Europeia disse ainda que
acredita que a parceria conduzirá a novas oportunidades em setores como a
energia, o turismo, o comércio e os transportes, ao anunciar um pacote de
investimento de 12 mil milhões de euros para a região: "Este pacote
reunirá investimentos da União Europeia e dos Estados-membros e lançará uma
nova série de projetos para a Ásia Central. Este é, verdadeiramente, o início
de uma nova era na nossa antiga amizade", disse Von der Leyen.
Para que serve o pacote de investimento da UE?
O novo pacote financiará projetos no domínio dos
transportes (3 mil milhões de euros), das matérias-primas essenciais (2,5 mil
milhões de euros), da água, da energia e do clima (6,4 mil milhões de euros),
bem como da conetividade digital - alguns dos quais já foram autorizados e
atribuídos pelo Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (BERD).
O acesso a energias limpas e a terras raras é fundamental
para a UE, que procura alcançar a neutralidade climática até 2050 e aumentar a
sua autonomia em setores estratégicos.
No entanto, uma parte considerável da extração,
transformação e reciclagem a nível mundial de algumas das matérias-primas
críticas, como o lítio, indispensáveis para o desenvolvimento de energias
renováveis, artigos de uso diário e sistemas de defesa, é controlada pela
China, da qual a UE pretende "desligar-se" devido às suas práticas
comerciais e de política externa agressivas e protecionistas.
Good discussions with the leaders of Kazakhstan, Kyrgyzstan, Tajikistan, and Turkmenistan.
— Ursula von der Leyen (@vonderleyen) April 3, 2025
We’re expanding our cooperation like never before:
Transport, critical raw materials, digital, energy and climate protection.
Everything we need to grow and prosper together. pic.twitter.com/cS3AFok33u
A Ásia Central possui grandes jazidas, incluindo 38,6% do minério de
manganês do mundo, 30,07% de crómio, 20% de chumbo, 12,6% de zinco e 8,7% de
titânio.
"Estas matérias-primas são a força vital da futura
economia mundial. No entanto, são também um ponto de encontro para os atores
mundiais. Alguns estão apenas interessados em explorar e extrair", afirmou
Von der Leyen aos líderes da Ásia Central.
"A oferta da Europa é diferente. Também queremos ser vossos parceiros no desenvolvimento das vossas indústrias locais. O valor acrescentado tem de ser local. O nosso historial fala por si", acrescentou.
Multilateralismo e Ucrânia
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Ataque russo a Kharvik A UE, que impôs 16 pacotes de sanções contra a Rússia,
nomeou um enviado especial para a questão do contorno das sanções, que se
deslocou à região em numerosas ocasiões nos últimos três anos. Altos funcionários da UE, que falaram sob condição de
anonimato, afirmaram, antes da cimeira, que os países da Ásia Central tinham
demonstrado "vontade de cooperar", mas que o bloco gostaria de
"ver mais", especialmente tendo em conta as conversações
em curso entre os EUA e a Rússia, das quais a Europa tem sido largamente
afastada, provocando receios de que os seus interesses não sejam protegidos. No entanto, a mesma fonte afirmou que a realização de
esforços adicionais sobre o tema é "um elemento importante para fazer
avançar as nossas relações", mas não uma condição prévia. Costa fez uma referência pouco velada à evasão das
sanções, afirmando que a Europa vai "continuar a aumentar a pressão sobre
a Rússia sempre que necessário" e que a "cooperação da Ásia Central é
inestimável". "Contamos com os vossos esforços contínuos a este
respeito", afirmou. |
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O presidente Shavkat Mirziyoyev afirmou que o
seu país, o Uzbequistão, "partilha o compromisso da parte europeia com os
princípios e normas do direito internacional" e "saúda e apoia
plenamente o processo de negociação para a resolução pacífica da situação na
Ucrânia".
Na cimeira, os líderes concordaram também em realizar um
Fórum de Investidores no final do ano para garantir mais investimentos,
nomeadamente para o Corredor de Transporte Transcaspiano, que reduzirá
drasticamente o tempo necessário para exportar mercadorias entre as duas
regiões, contornando a Rússia, e estabelecer um escritório local do BERD no
Uzbequistão.
Apoiaram igualmente a ideia de realizar cimeiras
semelhantes de dois em dois anos.
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